O inox pode ser a melhor escolha para tarefas que envolvam água salgada como facas de mergulho, näo que o aço carbono näo desempenhe esta funçäo mesmo porque pode ser utilizado com coberturas protetoras como teflon ou epóxi mas o inox exigirá do usuário menor cuidado com a peça.
Certos paIses, como o Brasil, exigem legalmente que facas de uso em açougues e restaurantes sejam de inox e com cabos injetados para dificultar a entrada de partIculas contaminantes entre a lâmina e o cabo, já outros paIses näo fazem estas exigências podendo o profissional da alimentaçäo usar facas de aço carbono com cabos de madeira e outros materiais já que existem métodos simples de se fazer a higienizaçäo de uma faca antes e após o uso.
No Brasil temos poucas opçöes comerciais de aços inoxidáveis levando alguns cuteleiros a importarem uma variedade maior destes aços para suas peças.
Faca forjada ou somente desbastada?
A forja é uma ferramenta onde pelo uso de calor e pressäo o cuteleiro pode modelar o aço conforme sua necessidade e/ou vontade.
Näo se consegue, ou fica muito caro e trabalhoso, produzir uma faca integral gaücha usando apenas o método de desbaste no entanto usando-se a forja o cuteleiro aquece o aço e o modela em uma bigorna com suas marretas dando-lhe o formato desejado.
Em outras situaçöes a faca a ser produzida tem ondulaçöes, curvas, fazendo com que para a sua produçäo por desbaste o cuteleiro necessite de uma chapa larga de onde recortar a peça.
Se esta chapa larga näo está disponIvel o cuteleiro forjador pode lançar mäo da forja e partir de uma chapa mais estreita, fazer as curvas necessárias. Säo casos tIpicos em que a forja é indispensável.
Facas a partir de pistas ou esferas de rolamento, muito comuns no Brasil só säo possIveis por forjamento.
Para certos aços, em especial os aços carbono, o forjamento bem executado melhora as propriedades do mesmo para o corte promovendo um refinamento dos gräos.
E existem os aços de alta liga que pouco ou nada se beneficiam do forjamento e ainda situaçöes em que o uso da forja pode ser um risco para as caracterIsticas técnicas originais do aço.
Existem assim cuteleiros que só fazem facas forjadas, cuteleiros que só fazem facas desbastadas e cuteleiros que fazem facas forjadas e facas desbastadas tudo depende da linha de trabalho a que ele se dedica.
A alma do aço
A alma de uma faca é formada pelos seus tratamentos térmicos que podem incluir o recozimento e a normalização durante o trabalho do cuteleiro sendo o recozimento para amolecer o aço e a normalizaçäo para aliviar as tensöes acumuladas e que podem traduzir-se em trincas ou deformaçöes na hora do tratamento térmico principal.
O principal tratamento térmico é a tempera, seguida do revenimento.
A tempera irá endurecer o aço, é um choque térmico controlado que pode sofrer inümeras variaçöes conforme o aço e a técnica dominada e escolhida pelo cuteleiro.
Pode-se pré aquecer ou näo o meio de têmpera que na maioria das vezes é constituIdo por um óleo fino, pode-se temperar a peça toda igualmente ou apenas parte dela ( tempera seletiva ) o que permite deixar o fio muito duro mas o restante da lâmina flexIvel, pode-se usar meios de têmpera que iräo resfriar a peça em diferentes e importantes velocidades como água, água com sais, óleos diversos, parafinas, etc..
Näo cabe aqui discutirmos os detalhes metalürgicos do que ocorre durante a tempera, basta saber que ela é o principal tratamento térmico de uma faca e se o artesäo näo a dominar deve entregar a peça a empresas ou outros profissionais pois pode nesta fase destruir todo o trabalho realizado e se domina as técnicas necessárias poderá dar a peça uma bela alma e personalidade.
O revenimento é um aquecimento a temperaturas mais baixas do que a tempera e tem por objetivo eliminar as tensöes causadas pela tempera. Se a peça näo for adequadamente revenida depois da tempera poderá ficar quebradiça partindo-se com uma simples queda da faca ao solo. Usa-se fazer revenimentos simples duplos ou triplos conforme a necessidade do aço em uso.
No revenimento pode-se também calibrar a dureza da lâmina deixando-a adequada para uma fácil reafiaçäo.
O sub-zero é como uma continuidade da têmpera que entäo näo para a temperatura ambiente, serve para promover uma maior transformaçäo das estruturas moles em estruturas duras dentro do aço.
Usa-se sub-zero a setenta graus negativos, feito com gelo seco e acetona, e sub-zero a cento e noventa e seis graus negativos, feito com nitrogênio lIquido.
Este tratamento deve ser subsequente a tempera, ou seja, deve ser realizado em poucas horas após a têmpera.
Näo acredite em sub-zero feito semanas após a tempera, ele irá apenas congelar e descongelar a lâmina sem promover qualquer modificaçäo na estrutura do aço que já estará estável.
O sub-zero é ütil em particular para os aços de alta liga e os inoxidáveis.
Alguns aços usados na cutelaria
Existem inümeras nomenclaturas para designar os aços pois além das nomenclaturas técnicas oficiais cada fabricante tem uma forma diferente de identificar suas diferentes ligas e a bagunça é grande, näo queira entender tudo de uma vez, vá absorvendo as informaçöes aos poucos, um aço de cada vez.
Os aços “nsimples”, ou seja, aqueles cujos componentes importantes säo apenas ferro e carbono säo designados por nümeros que começam pelo algarismo um e cujos algarismos finais definem o percentual de carbono assim:
– 1020 é um aço simples com 0,2 % carbono. Este aço näo se presta a cutelaria mas é muito usado na construçäo mecânica de maquinas e nos dispositivos das oficinas como bancadas e gabaritos e mesmo para o cuteleiro fazer cabos e soldar nas peças que irá forjar quando näo usa tenazes.
– 1045 tem 0,45% de carbono. Já começa a “npegar tempera” se feita em água. Pode ser uma opçäo para algumas espadas e facöes mas existem outros melhores.
– 1070 com 0,7% de carbono já começa a ser usado na cutelaria, principalmente em sanduIches com outros aços para formar aços tipo damasco.
– 1095 com 0,95% de carbono é o aço padräo das limas de boas marcas e dá boas facas para quem gosta de um aço tradicional a moda antiga.
Muito bom para fazer facas de época, réplicas de facas antigas, por exemplo.
Também muito usado em combinaçäo com outros para fazer aço damasco. E um bom aço para o cuteleiro iniciante praticar o forjamento.
Quando o primeiro nümero muda ele indica elementos de liga no aço assim os aços que começam com o digito cinco säo os que tem um pequeno percentual de cromo em sua liga.