Para o sucesso da captação de água da chuva para uso domiciliar, é fundamental dispor de tecnologias que reúnam simplicidade de construção, alta resistência e baixo custo.

Três fatores que parecem difíceis a reunir sob um teto só.

A cisterna de alambrado parece corresponder a estas três exigências. Enquadra-se na tecnologia de ferro-cimento, que garante alta resistência.

Além disso, a construção possui baixo insumo de materiais e é de grande simplicidade: em uma base de concreto se coloca uma tela de alambrado, de forma cilíndrica, já no tamanho da futura cisterna.

Para permitir a aplicação de argamassa, a tela é envolta com sacaria do tipo usado para cebola.

A aplicação de quatro camadas finas de argamassa confere a resistência necessária à parede.

O teto consiste em segmentos fabricados de forma semelhante.

A cisterna aqui apresentada possui uma capacidade de armazenamento de 16 m³, porém facilmente seu volume pode ser ampliado ou reduzido, pela simples adição ou subtração de alguns decímetros de tela.

Porque e como fazer

Para o uso humano, a captação de água de chuva necessita de um reservatório seguro e fechado, para que não haja vazamentos, nem evaporação.

Ao longo dos anos, após tentativas e experiências com diversos materiais como tijolos, pedras, materiais sintéticos, tem-se mostrado reservatórios cilíndricos de argamassa de cimento os mais resistentes.
Nestes, a tecnologia de ferrocimento se destaca por sua grande resistência e emprego reduzido de materiais.

A tecnologia tradicional de ferro-cimento emprega diversas malhas de arame fino amarradas de arame numa estrutura de barras de aço que sustenta o próprio peso o da argamassa.
A construção desta estruturaé demorada e emprega sempre mais aço do que necessário para a segurança do reservatório.

A tecnologia da cisterna de tela e arame representa uma simplificação da tecnologia tradicional, mantendo, porém, o princípio básico de ferro-cimento que garante resistência e segurança contra vazamento.
Não se usam barras de aço verticais, mas sim uma fôrma de chapa de aço flexível, removível, em torno da qual fica enrolada a tela e em torno da tela, o arame galvanizado.

A sustentação da parede, enquanto a argamassa fresca, é assumida pela fôrma, que é retirada após a aplicação das duas camadas externas.

O desafio para a nova tecnologia foi a eliminação da fôrma, sem abdicar da simplicidade e da segurança que o ferro-cimento oferece e da parede inteiriça, sem emendas ou composição por elementos singulares.

Um produto da indústria siderúrgica, muito usado para separar espaços em ar livre, como residências, estacionamentos etc, se oferecia como ideal:

o alambrado, uma tela de dois metros de altura, de malha 15 cm x 5 cm, de arame galvanizado de 3 mm de diâmetro, com uma resistência a ruptura de 65/70 kgf/mm²– ligeiramente superior ao do arame 3,4 mm utilizado na construção de cisterna com fôrma de 50 kgf/mm², com mesmo volume de armazenamento.

A tela é fornecida em rolos de 25 metros de comprimento.

A aplicação da argamassa em quatro camadas imita o princípio de materiais compostos, como chapas de madeira compensada ou vidro blindado.

A construção

A construção segue os procedimentos básicos da construção de cisterna com fôrma: no local da construção se retira a camada que contém matéria orgânica – normalmente em torno de 20 cm – e compacta o solo.

Em seguida são colocadas duas camadas, de sete centímetros cada, uma de seixo rolado, outra de areia grossa (lavada), ambas compactadas, que servem de fundação.

Dentro da camada seguinte, do contra-piso, é colocada e fixada a tela de alambrado, Foto 1.

Deve-se ter o cuidado de unir bem a parcela do concreto colocado do lado externo do cilindro de tela com a parte interna, Foto 2.

O cilindro de tela precisa ser nivelado com nível de mangueira.

O passo seguinte, a colocação da primeira camada de argamassa, para estabilizar a tela e permitir a aplicação das camadas estruturais e vedantes, encontrou uma solução surpreendente.

O desafio foi encontrar alguma maneira que permitisse a segurar a primeira camada de argamassa junto à tela de aço.

Na tecnologia original de ferro-cimento se aplicam diversas camadas de tela de arame fino e na aplicação da massa, uma segunda pessoa segura do outro lado uma peça de compensado fino, ou semelhante, para a massa não cair no vazio.Mas esta não seria a proposta.

Precisava encontrar uma solução que segurasse a argamassa, com facilidade, sem encarecer a construção.
Não poderia ser algo de material orgânico, pois pela camada fina de argamassa pequena quantidades de umidade penetram e decompõem o material orgânico, o que causa estufamento e destruição do concreto.

Como solução se ofereceu a sacaria usada para cebola. Possui capacidade de 20 kg, é feito de fio de polipropileno e tecido em malha tipo giro inglês.
A malha é bastante fina e não deixa a argamassa cair para o outro lado na hora da aplicação e é suficientemente resistente para poder ser bem ajustado e esticado em torno do alambrado.
São necessários 25 sacos de cebola, previamente bem lavadas que serão fixados com fitilho sintético, uma volta a cada cinco centímetros, Foto 3.

Com uma espátula flexível de náilon se aplica a primeira camada de argamassa, para estabilizar a tela de alambrado, Foto 4.

A sacaria não é colocada como elemento estrutural, mas sim, como simples suporte para sustentar a aplicação da primeira camada de massa.

Com a finalidade de evitar o movimento elástico da tela, causado pela aplicação da massa, o cilindro de tela deve ser fixado na sua posição com arame, esticado para o lado de fora, e escoras de madeira pelo lado de dentro.

No dia seguinte aplica-se a segunda camada externa e nos dias subsequentes duas camadas internas, todas estas com uma espessura de aproximadamente um centímetro.

A composição da argamassa é de uma parte de cimento a duas partes de areia grossa (lavada, sem argila) e uma de areia média, do tipo usado para reboco de paredes.

fonte:abcmac.org