Vossa majestade, a vitória-régia (Victoria amazonica) e suas surpresas

Vamos desvendar a majestosa vitória-régia (Victoria amazonica), maior planta aquática do mundo que produz a maior flor das américas. Nativa da bacia amazônica, é cheia de surpresas e um incrível processo de floração e reprodução – sem contar que é possível usá-la até em receitas.

Seu nome provém do cultivo de suas sementes nos jardins do palácio real em Londres por meio de um pesquisador britânico. Foi quando a planta recebeu o nome de Vitória, em homenagem à famosa rainha do fim do século XIX.

Ficha técnica

  • Nome científico: Victoria amazonica
  • Nomes populares: vitória-regia, aguapé-assú, cará-d’água, forno-d’água, forno-de-jaçanã, jaçanã, milho-d’água, nanpé, rainha-dos-lagos, rainha-dos-nenúfares
  • Família: Nymphaeaceae
  • Origem: bacia amazônica, América do Sul

Descrição da vitória-régia (Victoria amazonica)

vitória-régia
Foto: Grigory Kubatyan

A vitória-régia tem uma grande folha redonda que pode atingir até 2,5 metros de diâmetro e sustenta até 40 quilos, caso bem distribuídos. Esta repousa na superfície das águas que habita.

A folha está ligada ao fundo do lago, lagoa ou rio por meio de um pecíolo (cabo, talo) espinhento que leva a um rizoma. Com as inundações procovadas por chuvas eles vão se esticando mais, podendo alcançar até 5 metros.

Os bordos das folhas chegam a até 10cm e apresentam fendas laterais que ajudam no escoamento da água da chuva, que por sua vez escorrega pela planta com extrema facilidade.

De março a julho produz flores brancas que abrem somente à noite. Pela manhã, por volta das 9 horas, ela se fecha novamente e volta a se abrir, agora com pétalas rosadas, na noite seguinte. É quando está pronta para a polinização.

Quando ainda jovem a vitória-régia pode ter formato semelhante a um coração. Seus frutos amadurecem em cerca de um mês e meio e as sementes flutuam.

Condições ideais de ambiente

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Foto: Natureza Bela

Sol pleno e ciclo de vida perene. A água deve ter temperatura entre 29 e 32 graus Celsius. Ela não resiste se for abaixo de 15 graus. Em países de clima frio ela só pode ser cultivada em estufas com água e ambientes aquecidos.

Quando o nível das águas está alto a vitória-régia pode viver até dois anos; se é baixo demais ela perece logo.

Hoje me dia já existem variedades como a V. cruziana, que é menor. Esta se adapta um pouco melhor ao frio.

Papel da flor da vitória-régia na reprodução

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Foto: Igaratá Barco Hotel

O processo de reprodução da vitória-régia é um espetáculo em si.

No primeiro dia da floração elas surgem brancas e masculinas. Abrem no final da tarde, mas não apenas isso: emitem um perfume forte e a água ao seu redor chega a aquecer 5 graus centígrados.

Isso atrai uma espécie específica de besourinhos (Cyclocefalo casteneaea) que visitam a flor e, depois de algumas horas, acabam presos no interior dela, que volta a se fechar ao longo da noite. Eles ficam ali, prisioneiros, enquanto a flor branca, masculina, transiciona para rosadas ou lilases, feminina.

No final da tarde esta mesma flor se abre e liberta os insetos, que visitam outras flores de vitória-régia e finalmente as polinizam. Em seguida a flor volta para o lago já pronta para a formação de frutos. Isto leva aproximadamente seis semanas.

As sementes finalmente são liberadas e depositadas no fundo do lago. Isto ocorre por volta do mês de agosto. Ao receberem luz solar, vão endurecendo e penetrando no lodo. Eventualmente vão começar a germinar.

Elas também podem ser capturadas por aves, que acabarão espalhando-as por outras áreas molhadas.

Vitória-régia também é PANC, fonte de alimentação

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Tartar de salmão com pipocas de vitória-régia e pétalas do vegetal. Foto: Tiago Queiroz, Paladar

Há muito tempo os povos indígenas conhecem a vitória-régia como fonte de alimentação. Afinal seus pecíolos engrossam com o passar do tempo, se tornando cada vez mais ricos em amido, ferro e sais minerais.

Mais recentemente chefs e nutricionistas chegaram à conclusão que de fato as pétalas, sementes, rizomas e os próprios pecíolos espinhosos são ingredientes de primeira linha para receitas realmente tropicais.

Os rizomas, por exemplo, se assemelham a um tubérculo, tal como uma batata. As pétalas lembram endívias e as sementes, quando expostas a altas temperaturas, explodem e se tornam um tipo de pipoca. Por fim o pecíolo é crocante e suculento como um palmito-pupunha, sendo utilizado para fazer espaguete vegetal.

Logo tudo isso faz dela uma PANC, ou planta alimentícia não convencional. Para total alegria dos chefs mais ousados e criativos.

Outros usos da vitória-régia

A rainha das plantas aquáticas também possui propriedades cicatrizantes e laxantes, além do poder de tingir os cabelos. A tintura é extraída das raízes e tem uma coloração escura.

Sua folha é usada como sagrada em algumas culturas afro-brasileiras.

Como cultivar a Victoria amazonica

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Foto: Natureza Bela

Para germinar, crescer e ter uma vida long a vitória-régia é exigente. Precisa de sol ao máximo e águas mornas. Por outro lado, uma vez em ambiente ideal, adubações leves dão conta do resto.

Sementes não são a única forma de reprodução da Victoria amazonica. Divisão de rizomas também é totalmente possível.

Nos últimos anos o Jardim Botânico Plantarum, de Nova Odessa (SP), anunciou que estava tendo sucesso na reprodução da vitória-régia com ajuda humana. Descobriu-se a possibilidade de obter uma fecundação exitosa polinizando uma flor fêmea com as mãos – mais ou menos o que os besourinhos já mencionados fazem naturalmente.

Postado por
Joana Coccarelli
Joana Coccarelli é jornalista com foco em design, arquitetura, paisagismo, cultura e consumo.
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